Embora atualmente temas sobre alimentos transgênicos tenham perdido espaço na pauta dos grandes veículos de comunicação, uma dúvida persiste desde 1994, quando teve início a comercialização desses produtos nos Estados Unidos (e, posteriormente, em vários países): alimentos transgênicos são prejudiciais à saúde humana?
Antes de tudo, vamos entender o que são os OGM – organismos geneticamente modificados.
O que são organismos geneticamente modificados?
Organismos geneticamente modificados são animais, plantas e micro-organismos que sofreram mudanças no seu DNA através de manipulação, feita pela tecnologia ou engenharia genética, de forma a favorecer características desejadas, como o tamanho, cor ou, ainda, para dotar o organismo de maior resistência às condições do ambiente ou ataques de insetos, vírus, entre outras.
A mudança genética pode ocorrer de várias formas, por exemplo, deletando-se uma região do DNA do organismo ou adicionando-se um novo gene de outra espécie.
Por isso, é importante lembrar que OGM e transgênico não são sinônimos. Transgênicos são OGMs porque possuem uma sequência (ou parte) do DNA de outro organismo, podendo até ser de espécie diferente. Já um OGM é um organismo que foi modificado geneticamente, mas não recebeu nenhuma parte de outro organismo.
Devemos nos lembrar ainda que, por milhares de anos, desde o início do desenvolvimento da agricultura, temos alterado o DNA dos nossos alimentos e de outros seres vivos, através da seleção artificial ou reprodução seletiva.
Observamos e selecionamos exemplares de alimentos, como o milho ou soja, por exemplo, que naturalmente se destacaram pela resistência às condições meteorológicas, pragas, tamanho, cor, nutrientes, etc, e reservamos suas sementes para o plantio das próximas safras, permitindo, dessa forma, a colheita de produtos cada vez melhores. Com esse processo, interferimos na seleção natural e lapidamos o genoma desses organismos.
Sobre a produção de alimentos transgênicos
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura FAO, até 2050, a produção de alimentos no mundo precisará crescer 70% para acompanhar a demanda das populações em crescimento. Soma-se a isso, os problemas gerados pelas alterações climáticas causadas, principalmente, pelo aquecimento global, que pode diminuir a produtividade agrícola das áreas atualmente cultivadas.
No mundo, os países produtores de alimentos transgênicos ocupam uma área superior a 185 milhões de hectares, no cultivo principalmente da soja, milho e algodão.
Segundo o Serviço Internacional para Aquisição de Aplicações de Agrobiotecnologia (ISAAA), em 2017, o Brasil superou os 50 milhões de hectares de cultivo transgênico, registrando, naquele ano, um crescimento de 11%, ficando atrás apenas dos Estados Unidos.
No Brasil, os transgênicos passaram a ser plantados em 1998, com a aprovação do primeiro organismo geneticamente modificado do País – uma soja tolerante a herbicida.
De lá para cá, vários outros transgênicos para as culturas de soja, milho, algodão e feijão foram aprovados e estão sendo comercializados, sendo suas principais características a tolerância a herbicida, resistência a insetos e resistência ao vírus do mosaico dourado do feijoeiro.
Avanços, contestações e conflitos de interesse marcam as discussões sobre OGMs
Empresas e instituições ligadas ao setor, como a Associação Americana para o Avanço da Ciência, FAO, OMS e Embrapa, entre outras, deram declarações favoráveis aos alimentos transgênicos, alegando que, até agora, seu consumo não demonstrou maior risco à saúde humana do que os alimentos naturais.
Declaração similar também foi feita pela Associação Médica Americana, que disse que “os alimentos transgênicos têm sido consumidos por cerca de 20 anos, e, neste período, não foram relatadas e/ou confirmadas consequências observáveis sobre a saúde humana na literatura sujeita à revisão por pares”.
Especialistas afirmam que a engenharia genética permite alterar as características de uma planta de maneira muito mais rápida, controlada e precisa do que a reprodução seletiva, que mencionamos acima.
Sua aplicação na agricultura é, portanto, uma medida para resolver o desafio da fome no mundo, sendo ainda capaz de baratear os custos de produção, reduzir o uso de agrotóxicos e oferecer produtos com qualidade superior.
No entanto, outros estudos informam que a produção e consumo de alimentos geneticamente modificados pode trazer problemas para o homem e meio ambiente, como reações alérgicas, intoxicações, declínio da biodiversidade e contaminação genética, entre outros.
Alimentos transgênicos: onde chegamos, então?
Enquanto, para muitos, esse conjunto de posicionamentos favoráveis é uma evidência de que a segurança dos OGMs para o consumo humano tornou-se um consenso na comunidade científica, outras organizações e estudos reconhecem pelo menos algum grau de controvérsia e incerteza, e que podem haver riscos ainda desconhecidos, mal avaliados ou imprevistos, enfatizando a necessidade de mais estudos. Ou seja, após 20 anos, ainda não há consenso na resposta para a pergunta feita no inicio desse texto.
Coincidência ou não, ao finalizar esse texto, um importante veículo de comunicação informa ter acontecido um recorde na safra de grãos do Brasil no período 2018/2019, totalizando 238,5 milhões de toneladas.